“A cada sinal vermelho uma oportunidade para mostrar ao público transitório malabares e habilidades diferenciadas, ganhar dinheiro e ser feliz”, afirma Lautaro.
Trabalhar na rua, por que não? Muitos artistas encontram nas vias públicas grandes oportunidades de tornar conhecido o seu trabalho e ter uma renda para garantir o seu sustento e o de sua família. A cada sinal vermelho, uma nova chance, um novo desafio para demonstrar ao público passageiro uma habilidade diferenciada, um talento peculiar. Assim, definem os artistas de rua que desenvolvem seus trabalhos artísticos nos semáforos de Tangará da Serra. Além disso, eles proporcionam alegria, calma um pouco de leveza para as pessoas que estão na correria no dia-a-dia ou mesmo no stress do trânsito.
Não importa se é por dinheiro ou por experiência, por amor à arte ou mostrar seu trabalho, os artistas de rua já se expressavam desde a época da Grécia Antiga, passando pela Commedia dell’arte na Europa no fim da Idade Média e continuando executando seus trabalhos até os dias de hoje. Uma arte que está mais perto das pessoas, surpreende e modifica o ambiente onde está sendo realizada.
Para o Argentino de 22 anos, Lautaro Gabriel Carvalho, estar na rua é o que mais gosta e sabe fazer. Há sete anos ele encontrou na arte do malabarismo um novo jeito de escrever a sua história de vida, um jeito novo de também ganhar o pão de cada dia e muitas vezes de proporcionar momentos descontraídos a várias pessoas. O Argentino artista Lautaro Gabriel, é natural de Bariloche – Rio Negro, há 7 anos ele percorre o país inteiro apresentando um pouco do malabarismo.
Como e quando você descobriu na arte de rua um caminho de possibilidades?
Aos 12 anos, conheci um rapaz na cidade em que eu morava eu falei que tinha vontade de aprender sobre esse universo. Ele me ensinou fazer artesanato e depois o malabarismo. Desde então, nunca mais parei.
Como você organiza a sua rotina de trabalho?
O meu dia de trabalho inicia as 8:00 horas e segue até as 16:00 fazendo artesanato. Após às 16:00 horas vou fazer malabarismo no sinal, permaneço até quando estiver bom o movimento.
Quais estratégias você utiliza para escolher a cidade para apresentar seus trabalhos?
Eu viajo o mundo inteiro, não tenho um local previamente definido. Vou tocando caminho adiante, conhecendo, cidades, pessoas, países, as condições são determinantes para ficar mais ou menos tempo. De acordo com a recepção das pessoas é que fico mais ou menos tempo.
Você prefere organizar suas viagens em grupo ou sozinho? E sua família onde mora?
Eu sigo sozinho, prefiro assim. Minha família mora na Argentina. Meu contato com eles é através do Facebook.
Com tantas viagens pelo mundo como fica a convivência com a família?
É bastante difícil lidar com essas situações, pois tenho muita saudade da minha mãe, minha irmã, minha filha e dos meus amigos. Tenho saudade de muita gente e de muitas coisas que estão na Argentina. Mas também, preciso trabalhar e ganhar a vida. E o que eu amo fazer está nas ruas.
Trabalhar com a arte hoje possibilita uma renda para se manter?
Hoje sim. Mas como todas as profissões tem seus altos e baixos, mas a gente tem que se organizar e adequar ao mercado.
Qual motivação você tem ao levantar todos os dias para trabalhar com a arte do malabarismo?
Ver as pessoas felizes. Mostrar alegria. Eu digo moça que sou alegria e alegria. Quando tiver 100 anos vou continuar mostrando meu trabalho com alegria e muita alegria. Quando eu vejo um menino, uma menina passando, eu já abro um sorriso, trato todos com muita alegria. Por onde eu passo eu levo alegria.
Qual sua inspiração diária de vida?
Eu me amo muito, tenho muito sorriso em mim mesmo e é por isso que a felicidade vive em mim. Para eu passar a alegria para você é preciso que ela esteja em mim. Minha mãe me disse que se você não se ama, você não é capaz de amar outra pessoa. Eu amo muito a minha vida. Estes dias aqui conversando com uma moça, ela se colocou em lágrimas contando que se sentia triste e já tentou suicídio, ela dizia que se cortou e eu mostrei minha alegria e falei do meu amor pela vida para ela. Ela foi embora mais alegre. Eu faço artesanato e malabarismo e isso é muito mais que as pessoas podem pensar. É o que me completa, eu sou feliz e levo a alegria por onde eu passo.
Qual é a maior desafio na sua rotina de trabalho?
O preconceito das pessoas, o julgamento. Estes dias um cara passou olhando e me tratou como um noiado, me chamou de bêbado. Eu gosto sim de tomar uma cerveja, mas é pouca. Não gosto que me tratem assim. Eu estou ganhando meu dinheiro com meu trabalho. Se for preciso trabalhar de carpinteiro, eu trabalho, já fiz isso, sei fazer, mas eu amo trabalhar com a arte nas ruas e levar a alegria as pessoas que muitas vezes estão tristes.
Outra situação difícil também é quando passa algum garoto pedindo dinheiro para comprar comida, pois eu já passei muita fome nessa vida e sei muito bem o que é isso. Sentir fome é ruim demais. Sempre que posso eu ajudo. Aqui no Brasil as pessoas são mais receptivas, solidárias, elas ajudam bastante. Mas mesmo assim, tem muita gente passando necessidade e vivendo nas ruas por aí.
Eu já fui ajudado pelo mundo a fora em vários países, principalmente quem vive sozinho, não temos ninguém por nós. Então quando eu vejo alguém com fome, isso me lembra tudo que já vivi, quanto já me ajudaram, por isso eu procuro sempre ajudar.
Afinal, o que é Malabarismo?
O malabarismo é simplesmente a arte de manipular objetos com destreza e de modo coordenado. Existem várias técnicas de malabarismo, mas a mais usual é criar uma sequência mantendo objetos no ar, e criar assim manobras e truques com agilidade e precisão. Estes objetos são itens que o artista usa para fazer os malabares, que podem ser bolas, clavas, argolas, tochas, facas, serras, caixas, etc.
A arte de rua surgiu no Brasil na década de 70, primeiramente com as obras de grafite nas paredes da cidade de São Paulo. Numa época conturbada da história do país, com o início da Ditadura Militar. Uma arte marginalizada, entretanto, adquiriu posição de destaque no mercado de arte, com diversos artistas do país consagrados pelo mundo. A arte urbana representa o encontro da vida com a arte, ambas se dão naturalmente, na medida em que o ser humano vive e se desloca pela cidade. Esse espetáculo pode ser praticado nas ruas, palcos de teatros, picadeiros de circos e até em competições. Dentre os artistas de rua destacam-se: os malabaristas, desenhistas, estátuas vivas, músicos, vendedores, artesãos, palhaços e outros.
LEI: Em junho de 2017 foi publicada uma lei proibindo os artistas de rua de realizarem suas atividades nas vias públicas na cidade de São José dos Campos, em São Paulo. Após várias críticas e descontentamento por parte da categoria o Tribunal de Justiça de São Paulo – TJ/SP, suspendeu temporariamente essa medida. A liminar concedida pela Justiça Paulista foi emitida com base em uma ação do Ministério Público. A alegação da promotoria é que o tema seria de competência federal – e não municipal. Os artistas esperam que a decisão seja mantida, até por que esse tema é assegurado pelo Artigo 5º da Constituição Federal. “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.
Caleci Almeida
Sirlei Alves